Na Lisboa que entardece...

Sábado foi dia de passeio por Lisboa. É espantoso como a cada nova caminhada pela cidade se descobrem tantos recantos desconhecidos e se visitam, como se fosse sempre a primeira vez, outros tantos cantinhos. 

O plano era visitar o Castelo de São Jorge, mas viemos de lá corridos. O preço do bilhete de entrada era algo pornográfico (7 €?!?!). Esta tentativa gorada não nos desanimou. Acabamos a deambular por essa parte da cidade e foi perto do Miradouro da Graça que tirei estas fotos.

Enquanto apreciávamos a vista fomos abordados por um grupo de turistas que pediram para lhes tirarmos umas fotografias. Era um grupo de cinquentões, vindos da Califórnia, com a particularidade de um deles falar português (era brasileiro). Por uns cinco minutos ficamos por ali a conversar animadamente entre português e inglês. Foi o tempo suficiente para sermos abordados por outros turistas que observavam a situação e, sem exagero, tornei-me na fotógrafa de serviço. 

Um casal em particular chamou-me a atenção. Ele, muito alto, de olhos azuis, gordo e vermelhusco e ela muito morena e baixa, dirigiu-se a mim perguntando em alemão se podia tirar uma foto. Nesse exacto momento, o brasileiro cinquentão que ainda por ali estava, aproximou-se e perguntou à mulher alemã: "é brasileira?!". "Sou!", respondeu ela. Ficamos automaticamente com a comunicação facilitada. Ela queria tirar fotos com o marido que, apesar de alemão, falava perfeitamente português. "Tira aqui com essa vista linda do rio e das casas", pedia-me ela. Enquanto eu ajustava o foco, ela repetia para o marido gorducho e bonacheirão: "estica o pescoço, meu bem, estica esse pescoço. Alonga, alonga!". Fartei-me de rir. Delicioso!

Não sei se dura sempre esse teu beijo

Ou apenas o que resta desta noite

O vento, enfim, parou

Já mal o vejo

Por sobre o Tejo

E já tudo pode ser

Tudo aquilo que parece

Na Lisboa que amanhece

Sérgio Godinho